- Martinha,
chame as meninas, vá. Seu Morfeu já chegou.
Em alarme de
recreio, antes mesmo que qualquer palavra socorresse a mãe, elas se apressavam,
surgindo do corredor. Rubi seguia rompendo o adiante, como guia de Lazuli, já
bem habituada à outra mão, em aliança.
Seu Morfeu
trazia consigo um grande rolo de veludo escuro, que cumpria bem sua função
protetora, zelando com discrição as pedrinhas de cor. Sobre a larga mesa da
sala, elas eram expostas na medida do desenrolar, o que ia dando certa moldura
aos sonhos das pequenas. Não precisava anunciar a largada, ambas sabiam quando
alcançar o mostruário. Para Lazuli, era só seguir a mão.
-
Estou lá dentro, camarada. A gente se acerta quando as meninas terminarem,
certo?
Àquela
altura, Rubi e Lazuli nem ouviam mais nada. Estavam muito ocupadas, com os
olhos em dança: descompassados, desordenados, no ritmo da euforia. Eram
tantos... “Seu Morfeu pegou a gente de jeito, né? Como tá difícil escolher”,
descobria Rubi, conhecendo a dúvida. A irmã estranhava. E pressentia sem
entendimento: “Mas medo de quê?”, in.si.stia.
Rubi
não prolongou o espanto dessa sensação e soltou a mão dela: “Desisto. Não
consigo. Hoje quem escolhe é você por nós duas, Lazuli. Fico com o que você
decidir”. Lazuli viu sua palma descoberta, sem o habitual calor da decisão alheia
com que se confortou até ali. E cegou. Não conseguia distinguir nenhum daqueles
brilhos, ofuscados por este novo descompasso - sim, dele! “Vai, diz! Estou
ansiosa para usar o anel”, ruborizava a irmã, mesmo sendo do mesmo sangue. Depois de
alguns pares de minutos, Lazuli aquietou-se, acertando os passos. Mas ela é quem foi
escolhida. Só uma ainda brilhava em aceno.
-
É este.
Vindo
de dentro de casa, em emergência, Seu Maneco ainda tentou detê-la, mas com uma
pedra do sol no indicador esquerdo, Lazuli seguia, lapisando para o lado de
fora.
Um comentário:
sempre melhor! como pode? :)
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