quarta-feira, 16 de maio de 2012

Lápis


- Martinha, chame as meninas, vá. Seu Morfeu já chegou.

Em alarme de recreio, antes mesmo que qualquer palavra socorresse a mãe, elas se apressavam, surgindo do corredor. Rubi seguia rompendo o adiante, como guia de Lazuli, já bem habituada à outra mão, em aliança.

Seu Morfeu trazia consigo um grande rolo de veludo escuro, que cumpria bem sua função protetora, zelando com discrição as pedrinhas de cor. Sobre a larga mesa da sala, elas eram expostas na medida do desenrolar, o que ia dando certa moldura aos sonhos das pequenas. Não precisava anunciar a largada, ambas sabiam quando alcançar o mostruário. Para Lazuli, era só seguir a mão.

- Estou lá dentro, camarada. A gente se acerta quando as meninas terminarem, certo?

Àquela altura, Rubi e Lazuli nem ouviam mais nada. Estavam muito ocupadas, com os olhos em dança: descompassados, desordenados, no ritmo da euforia. Eram tantos... “Seu Morfeu pegou a gente de jeito, né? Como tá difícil escolher”, descobria Rubi, conhecendo a dúvida. A irmã estranhava. E pressentia sem entendimento: “Mas medo de quê?”, in.si.stia.

Rubi não prolongou o espanto dessa sensação e soltou a mão dela: “Desisto. Não consigo. Hoje quem escolhe é você por nós duas, Lazuli. Fico com o que você decidir”. Lazuli viu sua palma descoberta, sem o habitual calor da decisão alheia com que se confortou até ali. E cegou. Não conseguia distinguir nenhum daqueles brilhos, ofuscados por este novo descompasso - sim, dele! “Vai, diz! Estou ansiosa para usar o anel”, ruborizava a irmã, mesmo sendo do mesmo sangue. Depois de alguns pares de minutos, Lazuli aquietou-se, acertando os passos. Mas ela é quem foi escolhida. Só uma ainda brilhava em aceno.

- É este.

Vindo de dentro de casa, em emergência, Seu Maneco ainda tentou detê-la, mas com uma pedra do sol no indicador esquerdo, Lazuli seguia, lapisando para o lado de fora.



Um comentário:

Liliane Cintra disse...

sempre melhor! como pode? :)